DECISÃO DE CADA UM
José Antonio PagolaLc 20, 27-38
Jesus não se dedicou a falar muito da vida eterna. Não pretende enganar ninguém, fazendo descrições fantasiosas da vida além da morte. No entanto, toda a sua vida desperta esperança. Vive aliviando o sofrimento e libertando as pessoas do medo. Contagia uma confiança total em Deus. A Sua paixão é fazer a vida mais humana e feliz para todos, tal como quer o Pai de todos.
Só quando um grupo de saduceus se aproxima com a ideia de ridicularizar a fé na ressurreição, brota do coração crente de Jesus a convicção que sustenta e encoraja toda a Sua vida: Deus «não é um Deus de mortos, mas de vivos porque para ele todos estão vivos».
A Sua fé é simples. É verdade que nós choramos os nossos entes queridos porque, ao morrer, os perdemos aqui na terra, mas Jesus não pode sequer imaginar que a Deus vão morrendo esses Seus filhos a quem tanto ama. Não pode ser. Deus partilha a Sua vida com eles porque os acolheu no Seu amor insondável.
A característica mais preocupante do nosso tempo é a crise da esperança. Perdemos o horizonte de um futuro definitivo e as pequenas esperanças desta vida não acabam por nos consolar. Esse vazio de esperança está a gerar em muitos a perda de confiança na vida. Nada vale a pena. É fácil, então, o niilismo total.
Nestes tempos de desespero, não nos estarão a pedir a todos, crentes e não crentes, que coloquemos as questões mais radicais que carregamos dentro de nós? Esse Deus de que muitos duvidam, a quem muitos abandonaram e por quem outros continuam a perguntar, não será o fundamento último sobre o qual podemos apoiar a nossa confiança radical na vida? No final de todos os caminhos, no profundo de todos os nossos desejos, no interior das nossas interrogações e lutas, não estará Deus como Mistério final da salvação que estamos a procurar?
A fé está a ficar ali, encurralada em algum lugar do nosso interior, como algo pouco importante, que não merece a pena cuidar nestes tempos. Será assim? Certamente não é fácil acreditar, e é difícil não acreditar. Enquanto isso, o mistério último da vida está a pedir-nos uma resposta lúcida e responsável.
Essa resposta é a decisão de cada um. Quero apagar da minha vida toda a esperança última para além da morte como uma falsa ilusão que não nos ajuda a viver? Quero permanecer aberto ao Mistério supremo da existência, confiando que encontraremos a resposta, o acolhimento e a plenitude que andamos a procurar desde agora?
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
Publicado en www.gruposdejesus.com