É RIDÍCULO ESPERAR EM DEUS?
José Antonio PagolaOs saduceus não eram populares entre as pessoas das aldeias. Era um setor formado por famílias abastadas pertencentes à elite de Jerusalém, com tendência conservadora, tanto no modo de viver a religião quanto na política de procurar um entendimento com o poder de Roma. Não sabemos muito mais.
O que podemos dizer é que eles «negavam a ressurreição». Consideravam uma «novidade» típica de pessoas ingênuas. Não se preocupavam com a vida após a morte. A vida ia-lhes bem. Por que se preocupar mais?
Um dia aproximam-se de Jesus para ridicularizar a fé na ressurreição. Apresentam-lhe um caso absolutamente irreal, fruto de sua fantasia. Contam-lhe sobre sete irmãos que se casaram sucessivamente com a mesma mulher, para assegurar a continuidade de nome, honra e herança ao ramo masculino daquelas poderosas famílias saduceus em Jerusalém. É a única coisa que entendem.
Jesus critica sua visão da ressurreição: é ridículo pensar que a vida definitiva com Deus consistirá em reproduzir e prolongar a situação desta vida, e especificamente daquelas estruturas patriarcais das quais se beneficiam os homens ricos.
A fé de Jesus na vida após a morte não consiste em algo tão irrisório: «O Deus de Abraão, Isaque e Jacob não é um Deus de mortos, mas de vivos». Jesus não pode sequer imaginar que a Deus lhe estão morrendo os filhos; Deus não vive para a eternidade cercado por mortos. Tampouco pode imaginar que a vida junto a Deus consista em perpetuar as desigualdades, injustiças e abusos deste mundo.
Quando se vive de forma frívola e satisfeita, desfrutando do próprio bem-estar e esquecendo de quem vive sofrendo, é fácil pensar apenas nesta vida. Pode até parecer ridículo alimentar outra esperança.
Quando se compartilha um pouco o sofrimento da maioria pobre, as coisas mudam: o que dizer de quem morre sem ter conhecido pão, saúde ou amor? O que dizer de tantas vidas desperdiçadas ou injustamente sacrificadas? É ridículo alimentar a esperança em Deus?
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com