PEDIR COM FÉ
José Antonio PagolaA oração de petição tem sido alvo de fortes críticas ao longo dos anos. O homem ilustrado da era moderna não consegue colocar-se numa atitude de súplica diante de Deus, pois sabe que Deus não alterará o curso natural dos acontecimentos para atender aos seus desejos.
A natureza é «uma máquina» que funciona segundo umas leis naturais, e o homem é o único ser que pode agir e transformar, apenas em parte, o mundo e a história com a sua intervenção.
Então, a oração de petição fica arrumada para cultivar outras formas de oração, como o louvor, a ação de graças ou a adoração, que podem ser melhor harmonizadas com o pensamento moderno.
Outras vezes, a súplica da criatura ao seu Criador é substituída pela meditação ou a imersão da alma em Deus, mistério último da existência e fonte de toda a vida.
No entanto, a oração de súplica, tão controversa pelos seus possíveis mal-entendidos, é decisiva para expressar e viver desde a fé a nossa dependência de criatura diante de Deus.
Não é estranho que o próprio Jesus louve a grande fé de uma mulher simples que sabe implorar insistentemente a sua ajuda. Deus pode ser invocado a partir de qualquer situação. Desde a felicidade e desde a adversidade; desde o bem-estar e desde o sofrimento.
O homem ou a mulher que eleva a Deus a sua petição não se dirige a um Ser apático ou indiferente ao sofrimento das suas criaturas, mas a um Deus que pode sair da sua ocultação e manifestar a sua proximidade àqueles os que lhe suplicam.
Pois é disso que se trata. Não de usar Deus para alcançar nossos objetivos, mas de procurar e pedir a proximidade de Deus naquela situação. E a experiência da proximidade de Deus não depende primariamente que se cumpram os nossos desejos.
O crente pode experimentar de muitas formas a proximidade de Deus, independentemente de como se resolva o nosso problema. Recordemos a sábia advertência de Santo Agostinho: «Deus ouve a tua chamada, se o procuras a Ele. Não te ouve se, através Dele, procuras outra coisa».
Não é este o tempo para o cumprimento definitivo. O mal não está vencido de forma total. O que reza experimenta a contradição entre a desgraça que sofre e a salvação definitiva prometida por Deus. Por isso, toda a súplica e petição concreta a Deus fica sempre envolta nessa grande súplica que o próprio Jesus nos ensinou: «Venha a nós o teu reino», o reino da salvação e da vida definitiva.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com