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A CRUZ É OUTRA COISA

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É difícil não se sentir perplexo e perturbado ao escutar mais uma vez as palavras de Jesus: «Quem quiser vir comigo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me». Compreendemos muito bem a reação de Pedro, que, ao ouvir Jesus falar de rejeição e sofrimento, «o chama à parte e começa a repreendê-lo». Diz o teólogo mártir Dietrich Bonhoeffer diz que esta reação de Pedro «prova que, desde o início, a Igreja se escandalizou com o Cristo sofredor. Não quer que o seu Senhor lhe imponha a lei do sofrimento».

Este escândalo pode se tornar insuportável hoje para aqueles de nós que vivemos no que Leszek Kolakowsky chama de «a cultura dos analgésicos», essa sociedade obcecada em eliminar o sofrimento e o desconforto por meio de todo tipo de drogas, narcóticos e evasões.

Se queremos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que entender bem em que consiste a cruz para o cristão, porque pode acontecer que a coloquemos onde Jesus nunca a colocou.

Chamamos facilmente de «cruz» tudo o que nos faz sofrer, mesmo aquele sofrimento que aparece na nossa vida gerado pelo nosso próprio pecado ou pela nossa maneira errada de viver. Mas não devemos confundir a cruz com qualquer infortúnio, contrariedade ou desconforto que ocorra na vida.

A cruz é outra coisa. Jesus chama os seus discípulos a segui-lo fielmente e a colocarem-se ao serviço de um mundo mais humano: o reino de Deus. Este é o primeiro. A cruz nada mais é do que o sofrimento que nos advirá como consequência deste seguimento; o doloroso destino que teremos de partilhar com Cristo se realmente seguirmos os seus passos. É por isso que não devemos confundir o «carregar a cruz» com posturas masoquistas, uma falsa mortificação ou o que P. Evdokimov chama de «ascetismo barato» e individualismo.

Por outro lado, devemos compreender bem o «negar-se a si mesmo» que Jesus pede para carregar a cruz e segui-lo. «Negar-se a si mesmo» não significa de modo algum mortificar-se, castigar-se a si mesmo e, menos ainda, anular-se ou autodestruir-se. «Negar-se a si mesmo» é não viver pendente de si mesmo, esquecer-se do próprio «ego», para construir a existência sobre Jesus Cristo. Libertarmo-nos de nós mesmos para aderir radicalmente a Ele. Dito de outra maneira, «carregar a cruz» significa seguir Jesus disposto a assumir a insegurança, o conflito, a rejeição ou a perseguição que o próprio Crucificado teve de sofrer.

Mas nós crentes não vivemos a cruz como derrotados, mas como portadores de uma esperança final. Todo aquele que perder a vida por Jesus Cristo a encontrará. O Deus que ressuscitou Jesus também nos ressuscitará para a vida plena.

 

José Antonio Pagola

 Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez

Publicado en www.gruposdejesus.com

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