PERCURSO A CAMINHO DA FE
José Antonio PagolaEstando ausente Tomé, os discípulos de Jesus tiveram uma experiência sem precedentes. Assim que o veem chegar, dizem-lhe cheios de alegria: «Vimos o Senhor». Tomás escuta-os com ceticismo. Por que iria acreditar em algo tão absurdo? Como podem dizer que viram Jesus cheio de vida, se morreu crucificado? Em todo o caso, será outro.
Os discípulos dizem-lhe que lhes mostrou as feridas nas mãos e no lado. Tomé não pode aceitar o testemunho de ninguém. Necessita de comprova-lo pessoalmente: «Se não vejo nas suas mãos o sinal dos seus pregos... e não coloco a mão no lado dele, não acredito». Só acreditará na sua própria experiência.
Este discípulo, que se resiste a acreditar de forma ingénua, vai ensinar-nos o caminho que temos percorrer para chegar à fé em Cristo ressuscitado àqueles que nem sequer viram o rosto de Jesus, nem ouviram as suas palavras, nem sentimos os seus abraços.
Depois de oito dias, Jesus aparece novamente. Imediatamente se dirige a Tomé. Não critica sua atitude. As suas dúvidas não têm nada de ilegítimo ou escandaloso. A sua resistência em acreditar revela a sua honestidade. Jesus compreende-o e vem ao seu encontro, mostrando-lhe as suas feridas.
Jesus oferece-se para satisfazer as suas exigências: «Traz o teu dedo, aqui estão as minhas mãos. Traz a tua mão, aqui está o meu lado». Estas feridas, mais do que «provas» para verificar algo, não são «sinais» do seu amor entregue até à morte? Por isso Jesus convida-o a aprofundar mais além das suas dúvidas: «Não seja um incrédulo, mas um crente».
Tomé renuncia a verificar o que quer que seja. Já não sinte mais necessidade de provas. Só experimenta a presença do Mestre, que o ama, o atrai e o convida a confiar. Tomé, o discípulo que fez um caminho mais longo e trabalhoso do que qualquer outro para encontrar Jesus, vai mais longe do que qualquer outro na profundidade da sua fé: «Senhor meu e Deus meu». Ninguém se confessou assim a Jesus.
Não devemos assustar-nos ao sentir que brotam em nós dúvidas e interrogações.As dúvidas, vividas de forma saudável, resgatam-nos de uma fé superficial que se contenta em repetir fórmulas, sem crescer na confiança e no amor. As dúvidas estimulam-nos a ir até ao final na confiança no Mistério de Deus encarnado em Jesus.
A fé cristã cresce em nós quando nos sentimos amados e atraídos por aquele Deus cujo rosto podemos vislumbrar no relato que os evangelhos nos fazem de Jesus. Então, a sua chamada a confiar tem em nós mais força que as nossas próprias dúvidas. «Bem-aventurados os que acreditam sem ver».
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com