VAI COM NÓS
José Antonio PagolaO símbolo de Jesus como bom pastor produz hoje um certo fastio em alguns cristãos. Não queremos ser tratados como ovelhas num rebanho. Não precisamos de ninguém que nos governe e controle a nossa vida. Queremos ser respeitados. Não necessitamos de nenhum pastor.
Não sentiam assim os primeiros cristãos. A figura de Jesus, bom pastor, converteu-se rapidamente na imagem mais querida de Jesus. Já nas catacumbas de Roma é representado carregando sobre os ombros a ovelha perdida. Ninguém pensa em Jesus como um pastor autoritário, dedicado a vigiar e controlar os seus seguidores, mas como um bom pastor que cuida das suas ovelhas.
O «bom pastor» preocupa-se com as suas ovelhas. É a sua primeira característica. Não as abandona nunca. Não as esquece. Vive pendente delas. Está sempre atento às mais fracas ou doentes. Não é como o pastor mercenário que, quando vè algum perigo, foge para salvar a vida, abandonando o rebanho: não se preocupa com as ovelhas.
Jesus deixou uma memória inesquecível. Os relatos evangélicos descrevem-no preocupado com os doentes, os marginalizados, os pequenos, os mais indefesos e esquecidos, os mais perdidos. Não parece preocupar-se consigo mesmo. Sempre se o vê pensando nos outros. Preocupam-no sobretudo os mais desamparados.
Mas há algo mais. «O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas». É a segunda característica. Até cinco vezes repete o evangelho de João esta linguagem. O amor de Jesus pelas pessoas não tem limites. Ama os outros mais do que a si mesmo. Ama a todos com o amor de um bom pastor, que não foge do perigo, mas dá a vida para salvar o rebanho.
Por isso, a imagem de Jesus, «bom pastor», converteu-se rapidamente numa mensagem de conforto e confiança para os seus seguidores. Os cristãos aprenderam a dirigir-se a Jesus com palavras tomadas de Salmo 22: «O Senhor é o meu pastor, nada me falta... ainda que caminhe pelo vale da sombra da morte, nada temo, porque tu estás comigo... A Tua bondade e a Tua misericórdia acompanham-me todos os dias da minha vida».
Os cristãos vivemos com frequência uma relação bastante pobre com Jesus. Necessitamos conhecer uma experiência mais viva e cativante. Não acreditamos que ele cuide de nós. Esquecemos que podemos recorrer a ele quando nos sentimos cansados e sem forças, ou perdidos e desorientados.
Uma Igreja formada por cristãos que se relacionam com um Jesus pouco conhecido, confessado apenas doutrinariamente, um Jesus distante cuja voz não se escuta bem nas comunidades... corre o risco de esquecer o seu Pastor. Mas quem cuidará da Igreja senão o seu Pastor?
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com