DESCANSO RENOVADOR
José Antonio PagolaÉ uma alegria para o crente encontrar-se com um Jesus que sabe compreender as necessidades mais profundas do ser humano. Por isso enche-se a nossa alma de alegria quando ouvimos o convite que dirige aos seus discípulos: «Vinde para um lugar tranquilo e descansem um pouco».
Os homens necessitam «festejar». E talvez hoje mais do que nunca. Submetidos a um ritmo de trabalho inflexível, escravos de ocupações e tarefas por vezes esgotadoras, necessitamos desse descanso que nos ajude a libertar-nos da tensão, do desgaste e da fadiga acumulada ao longo dos dias.
O homem contemporâneo acabou frequentemente por ser escravo da produtividade. Tanto nos países socialistas como nos países capitalistas, o valor da vida foi reduzido, na prática, à produção, à eficiência e ao desempenho no trabalho. Segundo H. Cox, o homem actual «comprou a prosperidade ao preço de um vertiginoso empobrecimento dos seus elementos vitais». A verdade é que todos corremos o risco de esquecer o valor último da vida para nos afogarmos no ativismo, no trabalho e na produção.
A sociedade industrial tornou-nos mais trabalhadores, mais bem organizados, mais eficazes, mas, entretanto, há muitos que têm a impressão de que a vida se lhes escapa tristemente entre as mãos. Por isso o descanso não pode ser apenas a "pausa" necessária para repor as nossas energias esgotadas ou a «válvula de escape» que nos liberta das tensões acumuladas, para voltar com novas forças ao trabalho habitual.
O descanso deveria ajudar-nos a regenerar todo o nosso ser, descobrindo novas dimensões da nossa existência. A festa deve recordar-nos que a vida não é só esforço e trabalho esgotador. O ser humano foi feito também para desfrutar, para brincar, para desfrutar da amizade, para rezar, para agradecer, para adorar... Não devemos esquecer que, acima das lutas e das rivalidades, todos estamos chamados a partir de agora a desfrutar como irmãos de festa que um dia será definitiva.
Temos de aprender a «fazer férias» de outra forma. Não se trata de ficar obcecado em «passar bem» a todo o custo, mas de saber disfrutar com simplicidade e gratidão os amigos, a família, a natureza, o silêncio, os jogos, a música, o amor, a beleza, a convivência. Não se trata de nos esvaziarmos na superficialidade de uns dias vividos de forma louca, mas de recuperar a harmonia interior, cuidar mais das raízes da nossa vida, encontrar-nos connosco mesmo, desfrutar da amizade e do amor das pessoas, «desfrutar de Deus» através de toda a criação.
E não esqueçamos algo importante. Só temos direito ao descanso e à festa se nos cansarmos diariamente no esforço por construir uma sociedade mais humana e feliz para todos.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com