SÃO DOS NOSSOS
José Antonio PagolaO evangelista Marcos descreve um episódio em que Jesus corrige de forma contundente uma atitude equivocada dos Doze. Não deveremos ouvir também hoje a sua advertência?
Os Doze procuram impedir a actividade de um homem que «expulsa demônios», ou seja, alguém dedicado a libertar as pessoas do mal que as escraviza, devolvendo-lhes a sua liberdade e a dignidade. É um homem preocupado em fazer o bem às pessoas. Inclusive actua «em nome de Jesus». Mas os Doze observam algo que, na sua opinião, é muito grave: «Não é um dos nossos».
Os Doze não toleram a atividade libertadora de alguém que não está com eles. Parece-lhes inadmissivel. Somente através da adesão ao seu grupo se pode levar a cabo a salvação que oferece Jesus. Não se fixam no bem que faz aquele homem. Só se preocupam que não esteja com eles.
Jesus, pelo contrário, reprova de forma rotunda a atitude dos seus discípulos. Quem desenvolve uma atividade humanizadora já está, de alguma forma, vinculado a Jesus e ao seu projeto de salvação. Os seus seguidores não precisam monopolizar a salvação de Deus.
Os Doze querem exercer controle sobre a atividade de alguém que não pertence ao seu grupo, porque vêm nele um rival. Jesus, que só procura o bem do ser humano, vê nele um aliado e um amigo: «Quem não está contra nós é por nós».
A crise que sofre hoje a Igreja é uma oportunidade para os seguidores de Jesus recordarem que a nossa primeira tarefa não é organizar e desenvolver com sucesso a nossa própria religião, mas ser o fermento de uma humanidade nova.
Por isso não devemos viver com receios, condenando posições ou iniciativas que não se ajustam aos nossos desejos ou esquemas religiosos. Não é muito típico da Igreja de Jesus estar sempre a ver inimigos em toda a parte. Pelo contrário, convida-nos a alegrar-nos de pessoas e instituições fora da Igreja possam estar a fazer para um desenvolvimento mais humano da vida. São dos nossos porque lutam pela mesma causa: um ser humano mais digno da sua condição de filho de Deus.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com