FAZENDO AS GRANDES PERGUNTAS
José Antonio PagolaO homem contemporâneo não o atemoriza já os discursos apocalípticos sobre «o fim do mundo». Tampouco se detém a escutar a mensagem esperançosa de Jesus, que, usando essa mesma linguagem, anuncia, no entanto, o nascimento de um mundo novo. O que o preocupa é a «crise ecológica». Não se trata só de uma crise do ambiente natural do homem. É uma crise do próprio homem. Uma crise global da vida neste planeta. Crise mortal não só para o ser humano, mas para os outros seres animados que a sofrem desde algum tempo.
Pouco a pouco começamos a dar-nos conta de que nos metemos num beco sem saída, colocando em crise todo o sistema de vida do mundo. Hoje, «progresso» não é uma palavra de esperança como era no século passado, pois teme-se cada vez mais que o progresso termine servindo já não a vida, mas sim a morte. A humanidade começa a ter o pressentimento de que não pode ser acertado um caminho que conduz a uma crise global, desde a extinção dos bosques até à propagação das neuroses, desde a poluição das águas até ao «vazio existencial» de tantos habitantes de cidades massificadas.
Para deter o «desastre» é urgente mudar de rumo. Não basta substituir as tecnologias «sujas» por outras «mais limpas» ou a industrialização «selvagem» por uma mais «civilizada». São necessárias mudanças profundas nos interesses que hoje orientam o desenvolvimento e o progresso das tecnologias. Aqui começa o drama do homem moderno. As sociedades não se mostram capazes de introduzir mudanças decisivas no seu sistema de valores e de sentido. Os interesses económicos imediatos são mais fortes do que qualquer outra abordagem. É melhor desdramatizar a crise, desqualificar «os quatro ambientalistas exaltados» e encorajar a indiferença.
Não é chegado o momento de nos colocarmos as grandes questões que nos permitam recuperar o «sentido global» da existência humana sobre a Terra e de aprender a viver uma relação mais pacífica entre os homens e com a criação inteira?
O que é o mundo? Um «bem sem dono» que nós homens podemos explorar de forma impiedosa e sem qualquer consideração ou a casa que o Criador nos dá para torná-la cada dia mais habitável? O que é o cosmos? Uma matéria-prima que podemos manipular à vontade ou a criação de um Deus que, através do seu Espírito, vivifica tudo e conduz «os céus e a terra» à sua consumação definitiva?
O que é o homem? Um ser perdido no cosmos, lutando desesperadamente contra a natureza, mas destinado a extinguir-se sem remédio, ou um ser chamado por Deus a viver em paz com a criação, colaborando na orientação inteligente da vida para a sua plenitude no Criador?
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com