NO AFOGAR O AMOR SOLIDÁRIO
José Antonio PagolaO amor é a energia que dá verdadeira vida à sociedade. Em cada civilização existem forças que geram vida, verdade e justiça, e forças que causam morte, mentiras e indignidade. Nem sempre é fácil detetá-lo, mas na raiz de cada impulso da vida está sempre o amor.
Por isso, quando numa sociedade se afoga o amor, afoga-se ao mesmo tempo a dinâmica que conduz ao crescimento humano e à expansão da vida. Daí a importância de cuidar socialmente do amor e de lutar contra tudo o que o possa destruir.
Uma forma de matar o amor pela raiz é a manipulação das pessoas. Na sociedade atual, proclama-se em voz alta os direitos da pessoa, mas depois os indivíduos são sacrificados ao desempenho, à utilidade ou ao desenvolvimento do bem-estar. O que acontece então é aquilo a que o pensador americano Herbet Marcuse chamou «a eutanásia da liberdade». Cada vez há mais pessoas que vivem uma «não-liberdade confortável, cómoda, razoável e democrática». Vive-se bem, mas sem conhecer a verdadeira liberdade nem o amor.
Outro risco para o amor é o funcionalismo. Na sociedade da eficácia, o importante não são as pessoas, mas a função que desempenham. O indivíduo fica facilmente reduzido a uma engrenagem da máquina: no trabalho é um empregado; no consumo, um cliente; na política, um voto; no hospital, o número da cama… Nesta sociedade as coisas funcionam; As relações entre as pessoas morrem.
Outra forma frequente de afogar o amor é a indiferença. O funcionamento da sociedade moderna concentra os indivíduos nos seus próprios interesses. Os outros são uma «abstração». Publicam-se estudos e estatísticas por detrás dos quais se esconde o sofrimento das pessoas concretas. Não é fácil sentir-nos responsáveis. É a administração pública que se tem de ocupar com esses problemas.
Que podemos fazer cada um de nós? Perante tantas formas de falta de amor, o Batista sugere uma posição clara: «Quem tem duas túnicas, que as reparta com quem não tem nenhuma; e o que tem comida que faça o mesmo». O que podemos fazer? Simplesmente partilhar mais o que temos com aqueles que vivem em necessidade.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Pérez
Publicado en www.gruposdejesus.com