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Fecha de Creación (Inicio - Fin)

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UM SANTO TRISTE É UM TRISTE SANTO

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Lc 3, 10-18

 

INTRODUÇÃO

A primeira palavra da liturgia deste domingo, a antífona de entrada tomada da segunda leitura, é um convite à alegria. Claro que essa alegria não se deve à chegada do «torrão» (doce natalício) ou dos presentes, mas a Deus que é Emanuel.

Essa alegria, no AT, está baseada sempre na salvação que vai chegar. Hoje, estamos em condições para dar mais um passo e descobrir que a salvação já chegou porque Deus já chegou, e com a sua vinda a cada um de nós comunicou-nos tudo o que Ele é. Não temos de estar alegres porque Deus está próximo, mas porque Deus já está em nós.

A alegria é como a água de uma fonte: só a vemos quando aparece à superfície, mas antes percorreu um longo caminho que ninguém pode conhecer, através das entranhas da terra. A alegria não é um objeto para alcançar diretamente. É antes a consequência de um estado de ânimo que se alcança depois de um processo. Esse processo começa pelo conhecimento, isto é, uma tomada de consciência do meu verdadeiro ser. Se descubro que Deus faz parte do meu ser, encontro a absoluta segurança dentro de mim. As realidade que vêm de fora são secundarias, perante a realidade divina que está dentro.


EXPLICAÇÃO

Que temos de fazer? A pergunta é uma prova da sinceridade daqueles que se aproximam de João. Com quatro pinceladas o Batista assinala a necessidade de mudar a maneira de pensar e de agir. Três versículos antes, chama 'raça de víboras' aos que cumpriam escrupulosamente os ritos e as leis, mas esqueciam-se completamente dos outros.

Como Jesus, João não quer saber nada do que se faz no templo nem do cumprimento minucioso das normas legais. A religiosidade que não leva aos outros não é a religiosidade que Deus quer. Nisto coincide totalmente com Jesus.

O Batista, a partir da perspetiva de uma religiosidade judaica, pede aos que o escutam uma determinada conduta moral para escapar ao castigo iminente. Essa conduta não se refere ao cumprimento de normas legais, como faziam os fariseus (isto é um grande avanço sobre a religiosidade oficial), mas a manifestar preocupação pelos outros. Em nenhum caso faz alusão à religião, o que pede a todos é para melhorar a convivência humana.

O evangelho de Jesus propõe uma motivação mais profunda. O objetivo não é escapar à ira de Deus, mas imitá-lo na atitude de entrega aos outros. Jesus convida-nos a descobrir o amor que é Deus dentro de nós e, em consequência, a dedicarmo-nos a agir conforme as exigências dessa presença.

Para o Batista, a aceitação da parte de Deus depende do que nós façamos. O evangelho diz-nos que a aceitação por parte de Deus é o ponto de partida, não a meta. Continuar a esperar a salvação de Deus é a melhor prova de que não a descobrimos dentro e continuamos ansiando que nos chegue de fora.

O povo estava na expectativa. Uma bonita maneira de indicar a ansiedade de que alguém os tire da situação angustiante. Todos esperavam o ansiado Messias e a pergunta que fazem tem pleno sentido. Não será João o Messias? Muitos assim acreditavam, não só quando pregava, mas também muito tempo depois da sua morte.

A explicação que dá em seguida (eu não sou o Messias) não é mais do que o reflexo ad preocupação dos evangelistas em colocar o Batista no seu devido lugar; isto é, atrás de Jesus. Para eles, não há discussão possível. Jesus é o Messias. João é só precursor.


APLICAÇÃO

A segurança de ter Deus em mim não depende da minha perfeição. É anterior à minha própria existência e depende só d'Ele. Não ter isto claro afunda-nos na angustia e acabamos por acreditar que só podem ser felizes os perfeitos, porque só eles têm assegurado o amor de Deus. Com esta atitude estamos construindo um deus à nossa imagem e semelhança; estamos a projetar sobre Deus a nossa maneira de proceder e afastamo-nos dos ensinamentos do evangelho que nos dizem exatamente o contrário.

Deus não faz parte do meu ser para se colocar ao serviço da minha contingência, mas para conduzir tudo o que sou à transcendência. A vida espiritual não pode consistir em colocar o poder de Deus ao lado do nosso falso ser, mas em nos deixarmos invadir pelo ser de Deus para que Ele nos conduza ao absoluto.

A dinâmica da nossa religiosidade atual é absurda. Estamos dispostos a fazer todos os "sacrifícios" e "renúncias" que um falso deus nos exige, contando que depois ele cumpra os desejos do nosso falso eu.

A verdade é que não aceitamos a encarnação nem em Jesus nem em nós. Não nos interessa para nada o "Emanuel" (Deus connosco), mas que Jesus seja Deus e que ele, com o seu poder, potencie o nosso ego. O que nos diz a encarnação é que não há nada para mudar: Deus já está em mim e essa realidade é o máximo que posso esperar. Esta tem que ser a causa da nossa alegria. Eu tenho já tudo. Não tenho que alcançar nada. Não tenho que mudar nada do meu verdadeiro ser. Tenho que o descobrir e viver. O meu falso ser iria desvanecendo-se e a minha maneira de agir mudaria. Em Jesus vemo-lo de forma clara.

Estamos enganados quando esperamos encontrar a salvação na satisfação de desejos referentes ao nosso falso ser. Satisfazer as exigências dos sentidos, os apetites, as paixões, proporcionam-nos prazer, mas isso nada tem que ver com a felicidade. E quando deixar de dar ao corpo o que me pede, responderá com dor e nos afundará na miséria. Fazemos tudo para que Deus não tenha mais remédio do que dar-nos a salvação que lhe pedimos. Muitos, em nome da religião, deram um preço a essa salvação: se fazes isto e deixas de fazer aquilo, tens assegurada a salvação que desejas.

O reconhecimento de Deus, do qual falamos, não é racional nem discursivo, mas vivencial e de experiência. Esta é a maior dificuldade que encontramos no nosso caminho até à plenitude. A nossa estrutura mental cartesiana, não nos permite valorizar outros modos de conhecimento. Estamos presos a uma racionalidade que quer explicar tudo, que nos impede de chegar ao verdadeiro conhecimento de nós mesmos. Assim permanecemos enganados acreditando que somos o que não somos. Pedindo inclusivamente a Deus que potencie o nosso falso ser, porque acreditamos que está aí a nossa salvação.

A alegria de que fala a liturgia de hoje não tem nada que ver com a ausência de problemas ou com o prazer que me pode dar a satisfação dos sentidos. A alegria não é o contrário da dor ou do sofrimento. As bem-aventuranças mostram-no claramente. Se fundamento a minha alegria em obter tudo o que me apetece, estou entrando num beco sem saída. A minha parte caduca e contingente acaba por falhar sempre. Se me empenho em apoiar-me nessa parte do meu ser, o fracasso está assegurado. Quando a dor produz tristeza é porque não estamos a assumi-la na perspetiva de Jesus.

A resposta que temos de dar hoje à pergunta — que temos de fazer? — é muito simples: Partilhar. O quê? Como? Quando? Onde? Tenho que ser eu a descobrir. Nem sequer a resposta de João nos pode tranquilizar, pois na realização de uma série de ações pode entrar em jogo a programação e então nos tranquilizará só em parte. Não se trata de fazer isto ou deixar de fazer aquilo, mas de potenciar uma atitude que me leve em cada momento a responder à necessidade concreta do outro que precisa de mim. Trata-se de que a partir do centro do meu ser fluia humanidade em todas as direções.

A salvação, hoje como ontem, consiste numa certeza vivencial do que significa ser humano. Não alcançarei maior grau de humanidade por vestir novas roupas (boas ações, orações...), mas por deixar fluir, a partir de dentro, o meu verdadeiro ser. Não tenho que entrar na dinâmica de uma programação para chegar a ser. Tenho que descobrir o que sou para agir em conformidade com o que realmente sou. Só deitando fora o falso que tenho dentro irei alcançando pouco a pouco maiores quotas de humanidade.

 

Meditação-contemplação


Não perguntes a ninguém o que tens de fazer,

imediatamente cairás numa programação.

Descobre o teu verdadeiro ser e aí encontrarás as suas exigências.

A tua meta tem que ser alcançar a tua plenitude.

.......................

 

Só poderás crescer como ser humano

se as tuas relações com os outros forem cada dia mais humanas.

Não há outro caminho para alcançar a meta.

Precisas do outro para seres tu em plenitude.

...................

 

Todos os esforços no âmbito religioso

têm de terminar nos outros.

Nenhuma outra prática pode ter sentido

se não desemboca na preocupação pelo irmão.

....................

 

Fray Marcos

Traducción de Marcelino Paulo Ferreira

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